Quando se fala em automação residencial, muita gente pensa logo em startups ou marcas de tecnologia de consumo. Mas o que pouca gente percebe é que, nos bastidores, muitas indústrias tradicionais foram as grandes responsáveis por transformar esse setor em algo confiável, escalável e cada vez mais presente na rotina das pessoas. Sim — estamos falando de fabricantes que começaram no B2B pesado e, aos poucos, se tornaram referência em soluções para casas inteligentes.
O movimento foi sutil no início, quase como uma expansão natural. Empresas com histórico em sistemas elétricos, automação predial ou controle industrial começaram a adaptar suas tecnologias para o ambiente doméstico. E o resultado? Produtos mais robustos, mais seguros e, muitas vezes, mais duráveis do que aqueles oferecidos por marcas nascidas no varejo. A expertise técnica virou diferencial competitivo.
Mas não foi só a tecnologia que fez essas indústrias se destacarem. O marketing também teve um papel central — reposicionando a marca, construindo autoridade e, principalmente, educando o mercado. Porque automação residencial não é só conveniência: é integração, eficiência e segurança. E isso exige comunicação clara, objetiva e técnica. O famoso desafio de simplificar sem simplificar demais.
Neste artigo, vamos olhar para alguns casos inspiradores. Indústrias que cruzaram fronteiras, saíram do universo corporativo e técnico, e conquistaram o consumidor final. E, claro, vamos entender o que elas fizeram de certo — em produto, em posicionamento e em marketing para o setor industrial.
Schneider Electric: da energia à inteligência
Com raízes fortes no setor elétrico industrial, a Schneider Electric soube muito bem fazer a transição para o universo da automação residencial. Seu grande diferencial foi justamente aproveitar sua autoridade técnica e transferir esse know-how para o ambiente doméstico. E fez isso sem tentar parecer algo que não era.
A marca manteve sua linguagem técnica, mas começou a falar de forma mais acessível. Criou linhas de produtos específicas para casas inteligentes — como os sistemas Wiser — e investiu pesado em integração com assistentes virtuais, como Alexa e Google Home. Resultado: credibilidade instantânea com quem já conhecia a marca e curiosidade de novos públicos.
Além disso, a Schneider apostou em parcerias com construtoras e arquitetos para colocar seus sistemas diretamente nas novas residências. Ou seja, em vez de depender do consumidor final para iniciar o processo, foi direto à fonte. Uma estratégia inteligente que ampliou seu alcance sem perder a essência industrial.
Legrand: simplicidade funcional e design aliado à técnica
Outra gigante que migrou com elegância do B2B para o B2C foi a Legrand. Conhecida por seus produtos de infraestrutura elétrica, a empresa francesa criou uma linha robusta de automação residencial, mantendo um forte foco em design e usabilidade. A premissa era clara: tornar o complexo, simples. E funcionou.
A Legrand conseguiu um equilíbrio raro. De um lado, oferece soluções técnicas completas, com integração via protocolos padrão do mercado. Do outro, apresenta esses produtos com uma linguagem amigável, interfaces modernas e uma experiência de usuário refinada. Tudo isso sem abrir mão da robustez que sempre a caracterizou.
Um diferencial importante foi o investimento em showrooms interativos e conteúdo educativo. Ao mostrar, na prática, como a automação transforma o dia a dia, a empresa aproximou o conceito técnico da rotina real do consumidor. Isso criou um laço emocional com a tecnologia — um elemento essencial para o sucesso nesse segmento.
Intelbras: tecnologia nacional com foco em acessibilidade
Enquanto muitos players focam no alto padrão, a Intelbras encontrou seu nicho ao democratizar o acesso à automação residencial no Brasil. Com histórico em segurança eletrônica e comunicação, a empresa entendeu que o mercado precisava de soluções mais acessíveis — mas sem perder em confiabilidade.
A estratégia da Intelbras foi clara: simplificar a instalação, baratear o custo e criar um ecossistema fácil de entender. O foco foi o consumidor final que busca mais conforto e segurança, mas sem querer (ou poder) gastar fortunas. Isso abriu espaço em um mercado que antes era limitado a nichos premium.
Além disso, a empresa investiu fortemente em suporte técnico e distribuição nacional. Estar presente em lojas físicas, grandes redes e comércios locais fez toda a diferença para atingir seu público. A combinação entre tecnologia, preço justo e presença territorial transformou a marca em referência para quem quer começar na automação residencial sem complicação.
ABB: integração industrial aplicada ao lar
A ABB é um nome respeitado no mundo da automação industrial. Mas o que pouca gente sabe é que ela também tem uma linha completa de automação residencial — e com o mesmo padrão técnico que consagrou a marca nos grandes projetos de infraestrutura. Esse “DNA industrial” virou um diferencial competitivo.
Os produtos da ABB são voltados para quem quer automação de alto desempenho: integração entre sistemas elétricos, controle remoto de iluminação, climatização, segurança e até gestão de energia. Tudo isso com foco em eficiência e sustentabilidade, dois temas que vêm ganhando espaço nas casas modernas.
O interessante é que, mesmo com soluções sofisticadas, a empresa encontrou formas de se comunicar com clareza. Usou uma abordagem mais consultiva, investiu em parcerias com integradores especializados e manteve uma estética técnica, mas elegante. Assim, atraiu um público exigente — aquele que quer algo mais do que “acender a luz por voz”.
Siemens: inovação de ponta com legado técnico
A Siemens talvez seja o melhor exemplo de como uma marca industrial pode se reinventar sem abrir mão de sua identidade. Com décadas de atuação em automação, energia e engenharia pesada, a empresa criou um braço focado em smart homes — e o fez com a mesma excelência técnica que sempre a acompanhou.
O diferencial está na integração. A Siemens aposta em ecossistemas completos, onde todos os dispositivos conversam entre si e com a infraestrutura da casa. A proposta é transformar a residência em um organismo inteligente, onde tudo se adapta ao comportamento do usuário — da iluminação à segurança, da climatização ao consumo energético.
Na comunicação, a empresa adota um tom sofisticado, mas acessível. Mostra aplicações reais, fala em eficiência, sustentabilidade e bem-estar. E reforça sua autoridade ao lembrar que “quem automatiza aeroportos e fábricas também sabe automatizar casas”. Um posicionamento de respeito — e com apelo real.
Lessons learned: o que essas indústrias têm em comum?
Apesar das diferenças de mercado, posicionamento e público, todas essas indústrias seguiram alguns princípios em comum na transição para a automação residencial. O primeiro deles? Levar a técnica a sério — sem tentar diluí-la. Em vez de “simplificar até ficar genérico”, elas optaram por explicar com clareza, mostrar aplicações e entregar soluções reais.
Outro ponto crucial foi o cuidado com o marketing. Nenhuma dessas marcas chegou onde está apenas com bom produto. Houve estratégia de posicionamento, adaptação de linguagem, criação de conteúdo educativo e, em muitos casos, parcerias com quem influencia a decisão de compra: arquitetos, integradores e construtoras.
Por fim, todas entenderam que o consumidor não quer só tecnologia. Ele quer segurança, conforto, eficiência — e isso precisa ser mostrado de forma tangível. Quando a tecnologia vira benefício prático, ela deixa de ser um luxo e passa a ser um investimento. E é aí que a automação residencial realmente decola.