Quando pensamos em segurança doméstica, a primeira imagem costuma ser a de trancas, câmeras, alarmes — equipamentos físicos, caros e muitas vezes inacessíveis para famílias de baixa renda. Mas segurança vai muito além disso. Estamos falando também de estrutura da casa, de apoio psicológico, de prevenção a acidentes e até de proteção contra situações de negligência ou violência. E é exatamente aí que a assistência social entra.
O que pouca gente sabe é que os programas assistenciais não servem apenas para transferir renda ou fornecer cestas básicas. Eles também atuam como redes de proteção. Isso significa mapear riscos dentro de lares vulneráveis, oferecer suporte emocional, realizar visitas domiciliares e promover melhorias simples, mas que fazem toda a diferença no cotidiano dessas famílias.
Em muitos casos, o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) é a única presença do Estado dentro dessas casas. É ele que identifica crianças em risco, idosos vivendo sozinhos sem suporte, pessoas com deficiência em ambientes inseguros. E, a partir disso, pode acionar programas específicos para prevenir desastres domésticos que, infelizmente, são comuns onde falta estrutura.
Vamos conversar sobre como a assistência social pode — e deve — ser uma aliada na segurança doméstica? A seguir, você vai entender como o sistema funciona, onde ele atua, e o que ainda precisa melhorar para proteger quem mais precisa dentro de casa.
Renda mínima como alicerce da segurança doméstica
Parece óbvio, mas não é: quando falta dinheiro, sobra risco. Casas com goteiras, instalações elétricas improvisadas, botijões de gás vazando, pisos escorregadios… tudo isso se torna parte da rotina de quem não consegue arcar com reformas básicas. E é nesse ponto que o bpc loas e outros auxílios assistenciais fazem mais do que ajudar na alimentação: eles ajudam a manter a casa minimamente segura.
Com uma renda mínima garantida, a família consegue comprar uma extensão elétrica segura, reforçar o telhado, colocar uma fechadura nova. É simples, mas transforma. O problema é que, muitas vezes, essas melhorias são vistas como luxo. E aí o risco se instala: uma criança se machuca, um idoso cai, uma vela acesa vira incêndio. A assistência, nesse contexto, não previne só a pobreza — previne acidentes também.
Quando o recurso chega com regularidade, o lar ganha estabilidade. E isso impacta diretamente na segurança. Por isso, defender políticas como o BPC é também defender o direito de viver com dignidade — e com menos medo de que o próprio teto desabe. Segurança doméstica, nesse caso, começa no contracheque do benefício.
Documentação e a barreira invisível da exclusão
A questão da segurança doméstica está, muitas vezes, diretamente ligada ao acesso a políticas públicas — e esse acesso começa pela documentação. Sem CPF, sem RG, sem número do NIS, o cidadão não entra no sistema. E, sem isso, não recebe visita do CRAS, não participa de programas de prevenção e, claro, não recebe nenhum tipo de auxílio emergencial para manter sua casa mais segura.
É por isso que saber quais os documentos necessários para dar entrada no bpc é mais do que uma burocracia — é o primeiro passo para estar dentro da rede de proteção. Famílias sem documentação ativa não só deixam de receber benefício como também ficam invisíveis para o sistema de assistência. E invisibilidade, nesses casos, é sinônimo de risco.
O que acontece com uma casa onde mora uma criança com deficiência, mas sem laudo médico, sem cadastro, sem escola próxima? Essa família vai ficando cada vez mais vulnerável. Não há acompanhamento, não há visitas, não há intervenções. E a ausência do Estado vira espaço para negligência não intencional. A documentação, nesse sentido, é um escudo legal — e logístico — contra o abandono.
Lares com idosos e a importância do acompanhamento social
Idosos são, provavelmente, o grupo mais exposto a riscos dentro de casa — especialmente quando vivem sozinhos ou com cuidadores sem preparo. Quedas, queimaduras, intoxicações e até violência doméstica se tornam mais frequentes quando não há um acompanhamento contínuo. E é nesse ponto que programas assistenciais precisam atuar com mais força.
Quando o idoso já recebe algum tipo de apoio — como aposentadoria, pensão ou tipos de aposentadoria loas — ele entra no radar de algumas políticas públicas. Mas ainda são poucos os municípios que têm um mapeamento efetivo dos lares em situação de risco. Muitas vezes, o idoso depende de um vizinho, de um agente comunitário ou de um acidente para ser notado pelo sistema.
O ideal seria que o CRAS identificasse e acompanhasse essas famílias antes da tragédia. E isso só acontece quando há estrutura, equipe capacitada e uma rede intersetorial funcionando. O idoso que cai e fratura o fêmur pode ser apenas “mais um” na fila do hospital — mas, com assistência preventiva, ele poderia estar em um lar adaptado, com barras de apoio, chão antiderrapante e acompanhamento regular.
Pessoas com deficiência e os riscos dentro do próprio lar
Assim como os idosos, pessoas com deficiência também estão mais expostas a riscos domésticos. Escadas sem corrimão, banheiros sem acessibilidade, portas estreitas, móveis mal posicionados… Tudo isso vira um campo minado diário. E muitas dessas famílias sequer sabem que têm direito a reformas adaptadas ou acompanhamento especializado.
Uma etapa importante nesse processo é o laudo médico. Sem ele, a condição da pessoa nem sequer é reconhecida oficialmente. E esse laudo precisa estar completo, atualizado e com o código cid 10 correto. Caso contrário, a família não consegue acessar os programas que poderiam transformar aquela casa em um espaço mais seguro e habitável.
O papel da assistência, nesse caso, é fazer o meio de campo: conectar a família com os profissionais da saúde, orientar sobre os direitos, acionar programas habitacionais quando possível. A segurança doméstica depende muito da estrutura física, sim — mas também da estrutura institucional que cerca a família. E, quando essa rede funciona, os riscos diminuem de forma drástica.
Violência doméstica e os sinais dentro das casas
Nem todo risco dentro de casa é físico. Em muitos lares vulneráveis, o perigo vem da violência: psicológica, física, sexual ou patrimonial. E esses casos muitas vezes passam despercebidos, principalmente quando a vítima tem medo, vergonha ou simplesmente não sabe a quem recorrer. É aí que o serviço social pode atuar de forma estratégica e silenciosa.
Durante visitas de rotina — ou mesmo em cadastros para benefícios como o benefício de prestação continuada — o assistente social pode observar sinais de violência: isolamento, lesões não explicadas, mudanças no comportamento, ausência de autonomia sobre o próprio dinheiro. A casa, nesses casos, vira um campo de tensão constante. E a assistência pode ser a única saída possível.
O apoio, aqui, não é apenas jurídico. A assistência social pode incluir a pessoa em programas de acolhimento, transferi-la para uma rede de apoio ou, ao menos, registrar o caso para encaminhamentos futuros. Quando o lar deixa de ser um lugar seguro, o Estado precisa intervir com inteligência, cuidado e respeito. E o serviço social, mais do que ninguém, sabe como fazer isso de forma ética e eficaz.
Educação doméstica e a prevenção de acidentes
Nem todo problema de segurança doméstica exige uma obra ou um benefício financeiro. Muitas vezes, o que falta é orientação: como guardar produtos de limpeza longe do alcance das crianças, como desligar o gás à noite, como usar velas com segurança durante quedas de energia, entre outros cuidados simples.
Essas informações raramente chegam às famílias de forma sistemática. E é aí que o CRAS, os agentes de saúde e os educadores sociais podem atuar com mais impacto. Programas de capacitação simples, oficinas comunitárias e campanhas porta a porta podem reduzir drasticamente os acidentes domésticos — especialmente em comunidades onde o improviso é regra.
Educar também é proteger. Quando uma mãe sabe que não pode deixar a panela no fogo com o cabo virado para fora, ou quando um idoso entende a importância de um tapete antiderrapante, a segurança melhora — mesmo sem grandes recursos. A prevenção é, muitas vezes, o melhor investimento. E ela começa com uma conversa, uma visita, um folheto. Pequenos gestos com grande potencial de transformação.