Segurança de dados: cuidados para advogados criminalistas

Por Casa Protegida

8 de abril de 2025

Com a digitalização acelerada do Judiciário e o aumento da troca de informações pela internet, a segurança de dados passou a ser uma das maiores preocupações dos escritórios jurídicos. E, para quem atua na área criminal, o cuidado precisa ser redobrado. Afinal, documentos sigilosos, áudios sensíveis, laudos periciais e estratégias de defesa podem virar arma nas mãos erradas — o que coloca em risco não só o cliente, mas também a reputação do advogado.

É por isso que o advogado criminalista moderno precisa entender, ao menos no básico, como funcionam os mecanismos de proteção digital. Não se trata mais de um diferencial — é uma exigência ética e, em muitos casos, legal. Inclusive, a própria OAB já vem reforçando a importância de medidas de cibersegurança como parte do sigilo profissional.

Mas a verdade é que muitos ainda negligenciam esse tema. Usam senhas fracas, deixam arquivos abertos no computador, compartilham informações pelo WhatsApp sem criptografia ou armazenam tudo em pendrives vulneráveis. E basta um descuido para que uma informação vaze — com consequências graves, tanto no processo quanto fora dele.

Então, como proteger os dados dos clientes? Quais cuidados o advogado precisa tomar no dia a dia? Que ferramentas ajudam a manter a integridade das informações? Neste artigo, vamos explorar boas práticas essenciais para garantir a segurança digital na advocacia criminal. Spoiler: dá pra começar agora mesmo, com mudanças simples.

 

Criptografia e proteção de arquivos sensíveis

Um dos primeiros passos para garantir a segurança digital é utilizar a criptografia em documentos e pastas que contenham informações confidenciais. Isso significa embaralhar os dados de tal forma que apenas quem possui a chave correta consegue acessá-los. Parece complicado, mas hoje existem várias ferramentas que fazem isso com facilidade — como o VeraCrypt, o BitLocker e até sistemas integrados em nuvem, como o Google Drive com autenticação em dois fatores.

No dia a dia do advogado criminal, isso faz toda a diferença. Afinal, estamos falando de processos envolvendo réus presos, testemunhas protegidas e informações que não podem, de forma alguma, cair em mãos erradas. A criptografia garante que, mesmo em caso de furto de notebook ou invasão de e-mail, os dados permaneçam inacessíveis.

Além disso, é importante adotar o hábito de não armazenar tudo em um único dispositivo. Usar serviços de backup seguro e manter cópias criptografadas em ambientes diferentes reduz os riscos de perda de dados por falhas técnicas ou ataques virtuais.

 

Cuidados com e-mails e anexos em investigações financeiras

Nos processos de lavagem de dinheiro, o volume de documentos digitais é gigantesco: extratos, movimentações bancárias, contratos, planilhas e muito mais. E boa parte dessa troca de informações acontece por e-mail. O problema é que muitos advogados ainda usam contas gratuitas, sem qualquer tipo de proteção avançada, o que representa uma vulnerabilidade enorme.

Por isso, a recomendação é clara: use e-mails profissionais com verificação em duas etapas, autenticação por token e antivírus ativos. Além disso, nunca abra anexos suspeitos — mesmo que pareçam vir de fontes confiáveis — e desconfie de links encurtados ou mal formatados. Ataques de phishing estão cada vez mais sofisticados.

Para maior segurança, também vale a pena investir em plataformas de compartilhamento com controle de acesso e criptografia ponto a ponto. Ferramentas como Tresorit ou CryptPad oferecem esse tipo de recurso, permitindo que o advogado compartilhe provas e documentos com promotores ou peritos de forma protegida e rastreável.

 

Segurança durante sessões no Tribunal do Júri

No Tribunal do Júri, o advogado atua sob pressão, com olhos atentos de jurados, promotoria e, muitas vezes, da imprensa. E é comum que leve consigo anotações, apresentações digitais, vídeos e até gravações. Tudo isso precisa ser bem protegido — afinal, qualquer vazamento pode comprometer a estratégia de defesa.

Uma dica básica é utilizar notebooks com login biométrico e pastas protegidas por senha. Durante as sessões, mantenha o equipamento sempre com o advogado ou com alguém de confiança, e evite conexões em redes Wi-Fi públicas ou desconhecidas, que são portas abertas para invasões.

Além disso, vale configurar o dispositivo para bloqueio automático após poucos minutos de inatividade, e, se possível, usar VPNs para acessar sistemas jurídicos durante o julgamento. São pequenas medidas que fazem uma grande diferença na preservação de dados sensíveis em ambientes públicos.

 

Proteção de informações em atendimentos delicados

Advogados que atuam em casos de violência doméstica muitas vezes lidam com relatos extremamente sensíveis, provas emocionais e dados que precisam ser mantidos em total sigilo. Por isso, é fundamental garantir que esses registros estejam protegidos desde o primeiro contato com a vítima.

Ao utilizar aplicativos de mensagens ou chamadas, dê preferência às plataformas com criptografia de ponta a ponta, como Signal ou Telegram (com chats secretos ativados). Evite compartilhar informações via WhatsApp comum, principalmente se o aparelho não estiver protegido com senha, biometria e autenticação dupla.

Nos registros digitais, adote senhas fortes e evite salvar automaticamente arquivos de mídia no celular ou no computador. E sempre que possível, oriente a vítima sobre como se proteger digitalmente também — muitas delas têm seus celulares monitorados pelo agressor, o que pode colocar o atendimento em risco.

 

Controle de acesso e sigilo na execução penal

Durante o acompanhamento da execução penal, o advogado lida com prontuários, relatórios de conduta, exames criminológicos e outras informações pessoais do cliente. É imprescindível que esses dados fiquem restritos apenas a quem de fato precisa acessá-los.

Para isso, os softwares jurídicos utilizados devem oferecer controle de acesso por usuário, com níveis diferenciados de permissão. Assim, mesmo dentro do escritório, só as pessoas autorizadas conseguem visualizar documentos mais sensíveis. Além disso, mantenha registros de login e alteração de arquivos — isso garante rastreabilidade em caso de incidentes.

Também é importante treinar a equipe para adotar boas práticas de segurança. Muitas falhas acontecem por descuido humano: senhas compartilhadas, arquivos abertos em locais públicos, e-mails enviados para destinatários errados… uma política interna clara pode evitar esses erros e fortalecer a cultura de proteção de dados.

 

Backup em nuvem com camadas extras de proteção

Por último — e não menos importante — está o backup. Parece simples, mas muita gente só percebe a importância disso quando é tarde demais. Ter uma cópia de segurança atualizada dos documentos, armazenada em nuvem e com camadas extras de proteção, é essencial para garantir a continuidade do trabalho mesmo em caso de falhas ou ataques virtuais.

Opte por serviços que ofereçam criptografia de ponta a ponta, verificação em duas etapas e histórico de versões (que permite recuperar arquivos apagados ou alterados). Plataformas como pCloud, MEGA e Sync são boas alternativas, com foco em segurança e privacidade.

E mais: nunca dependa de um único serviço. O ideal é ter ao menos duas cópias — uma na nuvem e outra física, em HD externo criptografado. Dessa forma, o advogado se protege contra falhas técnicas, invasões e até desastres físicos, como incêndios ou roubos. É o básico do básico — mas que muita gente ainda negligencia.

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